Autoria: Gilberto Braga
Direção geral: Roberto Talma
Supervisão: Daniel Filho
Período de exibição: 05/05/1986 – 30/05/1986
Horário: 22h
Nº de capítulos: 20
SINOPSE
Ambientada na segunda metade da década de 50, época dos “anos dourados”, mais precisamente na Tijuca, bairro da classe média carioca de tradição conservadora, no momento em que o Brasil era governado por Juscelino Kubitschek. O país vivia um clima de otimismo e a política e a cultura traziam ares de progresso e desenvolvimento.
Temperada com muito romantismo, a trama gira em torno dos dois protagonistas, Lurdinha (Malu Mader), uma normalista, estudante do Instituto de Educação, uma moça tímida, submissa e muito doce e Marcos (Felipe Camargo), um rapaz íntegro e puro, aluno do tradicional Colégio Militar. Os dois apaixonam-se e têm que superar diversos obstáculos para permanecerem juntos.
As tramas amorosas ganham densidade pelo fato de a história ser ambientada numa época de controle de comportamento e repressão sexual. A partir dessas relações, a minissérie retrata os preconceitos e as regras ditadas pela família e pela escola, que geram choques entre pais e filhos, e discute questões como o moralismo e a hipocrisia da sociedade da época. Em meio ao clima de romantismo, vestidos rodados, brilhantina no cabelo e copos de cuba-libre, a minissérie aborda tabus como virgindade, aborto, desquite, masturbação e casos extraconjugais.
Os diálogos dos personagens procuravam reproduzir a típica dubiedade que marca a época entre conservadorismo de costumes e discurso desenvolvimentista. Em determinado momento da trama, por exemplo, retrucando uma observação de sua mulher, Dr. Carneiro diz: “Aqui em casa não entra mulher desquitada, getulista e nem ateu.” Em outra cena, o personagem diz que a cidade de Brasília, já em construção, é “um sonho louco de um político irresponsável”. Primorosos, os diálogos da minissérie reuniam gírias, cacoetes e expressões dos anos de 1950, o que acabava revelando com fina ironia os preconceitos e as convicções dos personagens.
ELENCO
Malu Mader – Maria de Lourdes (Lurdinha Carneiro)
Felipe Camargo – Marcos
Isabela Garcia – Rosemary
Betty Faria – Glória
José de Abreu – Major Dornelles
Cláudio Corrêa e Castro – Dr. Carneiro
Yara Amaral – Celeste Carneiro
Nívea Maria – Beatriz Campos Dornelles
José Lewgoy – Brigadeiro Campos
Milton Moraes – Cláudio
Taumaturgo Ferreira – Urubu
Antonio Calloni – Claudionor
Lúcia Alves – Vitória
Jece Valadão – Gracindo
Tânia Scher – Marieta
Rodolfo Bottino – Lauro Campos Dornelles
Bianca Byington – Marina Campos Dornelles
Paula Lavigne – Marly
Denise Bandeira – Laís
Paulo Villaça – Joel
Maria Lúcia Dahl – Abigail (Bibi)
Helber Rangel – Rodolfo
Rosane Gofman – Lenita
Isabela Bicalho – Solange Campos Dornelles
Arthur Costa Filho – Olivério
Norma Geraldy – Tia Pequetita
John Herbert – Coronel
Izabella Bicalho – Solange
CURIOSIDADES
– O trabalho das equipes de figurino, cenografia e direção de arte merece destaque, pela primorosa reconstituição de época, que reproduziu com exatidão o Rio de Janeiro dos anos de 1950. Foi necessária uma pesquisa detalhada para desenhar de forma mais verossímil possível o período retratado.
– Para compor esse clima, os personagens circulam em cadillacs e automóveis rabo-de-peixe. A juventude exibe uniformes dos tradicionais colégios públicos cariocas daquele período. Nos bailes de formatura, os pares dançam de rosto colado e a bebida que circula é o cuba libre. Os rapazes usam topetes com brilhantina, e as moças desfilam seus vestidos rodados feitos de tule. Alguns homens também adotam um visual inspirado no filme Juventude transviada, de Nicholas Ray, como o personagem Urubu, enquanto muitas mulheres lançam mão do corte de cabelo conhecido na época como “taradinha”, curto, mas com movimento, feito com pega-rapazes na franja. Para dar vida à sua personagem, a atriz Betty Faria adotou esse corte, inspirada em Gina Lollobrigida, no filme Trapézio (1956). O telespectador reconhecia em cena objetos dos anos 1950, como xícaras e louças em geral, licoreira em forma de boneca, canetas-tinteiro, rádios, entre muitos outros objetos e adereços que compunham os cenários.
– O diretor Roberto Talma conta que transformou a rua de um condomínio em Jacarepaguá em cidade cenográfica. Ele lembra que, às vezes, era preciso pintar os postes das ruas de preto, pois não havia postes de cimento nos anos de 1950, só de ferro.
– A figurinista Helena Gastal também tem recordações da minissérie. Ela conta que tudo era muito corrido e improvisado. As atrizes, por exemplo, se apertavam atrás de tapumes espalhados pela rua do condomínio em Jacarepaguá e lá trocavam suas roupas.
– Pela primeira vez o autor Gilberto Braga escrevia uma minissérie na Rede Globo. Segundo ele, Anos dourados é o maior sucesso de sua trajetória profissional, a produção de maior repercussão.
– Além de realizar pesquisas de época e recorrer à sua própria memória, Gilberto Braga também se reuniu com amigos e conhecidos que viveram os “anos dourados” e aproveitou suas histórias. A cena, por exemplo, em que Marcos pula o muro da escola para encontrar Lurdinha às escondidas, foi escrita a partir desses testemunhos.
– Anos dourados foi vendida para mais de 20 países, entre eles Albânia, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal, Turquia, Uruguai e Venezuela.
– Pela primeira vez, Gilberto Braga, além de escrever a história, acumulava a função de produtor musical. Ao lado do diretor musical Paulo César Saraceni, Gilberto Braga foi responsável pela produção musical da minissérie e do LP. A trilha sonora era apresentada de forma diferente: nenhum personagem tinha tema musical próprio, nem mesmo os casais apaixonados. As melodias acompanhavam o clima de cada cena, conforme indicação do próprio Gilberto Braga nos capítulos que escrevia.
– A trilha reunia gravações de Nat King Cole, Maysa, Dolores Duran, Dick Farney, Elizeth Cardoso e outros nomes marcantes da cena musical da década de 1950. Tom Jobim compôs a música da abertura: Anos dourados. Logo depois, Chico Buarque compôs a letra da canção, que acabou se tornando um grande sucesso da música popular brasileira.
– O tema de abertura era a canção homônima de Tom Jobim. O cantor e compositor Chico Buarque, em parceria na qual lhe havia ficado a letra a fazer, não entregou o poema a tempo hábil antes da estréia da minissérie. Como seria estranho incluir a música cantada depois de o programa ter estreado, “Anos dourados” foi ao ar por completo com o tema de abertura apresentado apenas em versão instrumental.
– Malu Mader confessou que a minissérie foi o seu trabalho preferido. Foi o segundo trabalho da parceria desta com Gilberto Braga.
– Por quase dez anos, Anos dourados foi a minissérie de maior média de audiência dentre as da Rede Globo. O recorde foi batido por Memorial de Maria Moura, em 1994.
– A minissérie foi reapresentada em três ocasiões: duas pela própria Rede Globo; de 4 de outubro a 4 de novembro de 1988, no mesmo horário e na íntegra, em 20 capítulos; em 1990, compactada em dez capítulos, dentro do Festival 25 Anos; e pelo canal de TV por assinatura Multishow, em 2005, nas homenagens aos quarenta anos da TV Globo, em dez capítulos novamente.
– Em 1986, o último capítulo apresentou o destino dos personagens alguns anos depois. Nas reprises posteriores, o final não é apresentado, sendo substituído por uma edição de cenas da minissérie acompanhadas de “Anos dourados” cantada por Maria Bethânia. O final original só pode ser revisto no DVD, lançado em 2003.
REFERÊNCIAS
http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-235953,00.html
(Acessado em maio de 2011)