CINEMA & EDUCAÇÃO

Dedicado a professores, alunos e amantes da 7ª Arte…

Linguagem cinematográfica

A primeira exibição pública de cinema ocorreu em 28 de dezembro de 1895. Os inventores do Cinematógrafo – os irmãos Lumière – projetaram “L’Arrivée d’un Train à La Ciotat”[1] para uma platéia de trinta e três pessoas pasmas, no “Grand Café”, em Paris.

Os irmãos Louis e Auguste Lumière talvez não tivessem consciência de que estavam criando um meio de expressão tão importante. Chegaram a dizer que sua invenção não tinha o menor futuro como espetáculo, porém, ainda no fim do século XIX, Georges Méliès, um ilusionista francês, percebeu que ele poderia ser um veículo capaz de tornar real a imaginação. Estava criado o cinema.

Em seus cento e poucos anos de existência, o cinema passou por diversas transformações técnicas, estéticas, ideológicas, formais, estilísticas e de conteúdo, para citar apenas algumas.

 A cada uma destas mudanças correspondeu não apenas uma forma de se fazer cinema, como também diferentes formas de se pensar o cinema. Mas o que é importante reter aqui é o fato de que ao falarmos a palavra cinema, podemos estar nos referindo tanto ao filme propriamente dito, quanto a uma indústria ou mesmo a um lugar de encontro físico e social.

Chamamos de linguagem cinematográfica o conjunto de planos, ângulos, movimentos de câmera e recursos de montagem que compõem o universo de um filme.

Para isso, é preciso ter em conta que cada plano, movimento de câmera, etc, tem um efeito psicológico, um valor dramático específico e exerce seu papel dentro da totalidade que é um filme.

A seguir apresentaremos alguns dos principais aspectos da linguagem cinematográfica procurando propiciar aos interessados uma pequena noção do que é essa linguagem.[2]

Campo

Compreende tudo o que está presente na imagem: cenários, personagens, acessórios.

Extra-campo

Remete ao que, embora perfeitamente presente, não se vê. É o que não se encontra na tela, mas que complementa aquilo que vemos. Designa o que existe alhures, ao lado ou em volta do que está enquadrado.

Plano

É a imagem-movimento. É uma perspectiva temporal, uma modelação espacial.

Contra-plano

Dialoga com o plano e pode ser definido como uma tomada feita com a câmera orientada em direção oposta à posição da tomada anterior.

Planos

O tamanho de um plano é determinado pela distância entre a câmera e o objeto filmado. Deve haver adequação entre o tamanho do plano e seu conteúdo material (o plano é mais afastado quanto mais coisas há para ver) e seu conteúdo dramático.

Existem numerosos planos e eles raramente são unívocos: o plano geral de uma paisagem pode perfeitamente enquadrar uma personagem entrando em primeiro plano, e é possível dispor atores em diversas distâncias.

Plano geral

Enquadra a cena em sua totalidade. É aberto e procura registrar o espaço onde as personagens estão. O corpo humano é enquadrado por inteiro e sempre temos o ambiente (interno ou externo) ocupando grande parte da tela. Reduzindo o homem a uma silhueta minúscula, este plano o reintegra no mundo, faz com que as coisas o devorem, “objetivando-o”. Dá uma tonalidade psicológica pessimista, uma ambiência moral um tanto negativa e, às vezes, também traz uma dominante dramática de exaltação , lírica ou mesmo épica.

 Plano americano

É o plano que enquadra a figura humana do joelho para cima. Geralmente não comporta mais do que três personagens reunidas. Tem esse nome devido à sua grande popularidade entre os diretores de Hollywood das décadas de 30 e 40.

 Plano seqüência

É a filmagem de toda uma ação contínua através de um único plano (sem cortes).

Close

É o plano enquadrado de uma maneira muito próxima do assunto. A figura humana é enquadrada do ombro para cima, mostrando apenas o rosto do/a ator/atriz. Com isso, o cenário é praticamente eliminado e as expressões tornam-se mais nítidas para o/a espectador/a. Corresponde a uma invasão no plano da consciência, a uma tensão mental considerável, a um modo de pensamento obsessivo.

 Plano detalhe

Semelhante ao close, mas se refere a objetos. Enquadra um objeto isolado ou parte dele ocupando todo o espaço da tela. Ressalta um aspecto visual, eliminando o que não é importante no momento.

Ponto de vista

Plano visto pelos olhos do personagem, à sua altura e distância, no geral intensificando a dramaticidade do roteiro.

Ângulos

São determinados pela posição da câmera em relação ao objeto filmado.

Plongée

A câmera filma o objeto de cima para baixo, ficando a objetiva acima do nível normal do olhar. Tende a ter um efeito de diminuição da pessoa filmada, de rebaixamento.

 Contra-plongée:

A câmera filma o objeto de baixo para cima, ficando a objetiva abaixo do nível normal do olhar. Geralmente, dá uma impressão de superioridade, exaltação, triunfo, pois faz “crescer” o/a ator/atriz.

 Inclinado

É uma tomada feita a partir de uma inclinação do eixo vertical da câmera. Pode ser empregada subjetivamente, materializando aos olhos do/a espectador/a uma impressão sentida por uma personagem, como uma inquietação ou um desequilíbrio moral.

 Movimentos de câmera

Constituem a base técnica do plano em movimento. São definidos levando-se em conta se o movimento da câmera é de rotação (em torno do seu eixo) ou de translação (locomovendo-se em avanço ou recuo, subindo ou descendo).

Panorâmica

A câmera se move em torno do seu eixo, fazendo um movimento giratório, sem sair do lugar. Trata-se de um movimento da câmera que pode ser horizontal (da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda), vertical (de cima para baixo ou vice-versa) ou oblíquo. A panorâmica vertical é também conhecida como tilt.

Travelling

A câmera é movida sobre um carrinho (ou qualquer suporte móvel) num eixo horizontal e paralelo ao movimento do objeto filmado. Este acompanhamento pode ser lateral ou frontal, neste último caso podendo ser de aproximação ou de afastamento. Ao lado temos um exemplo de travelling lateral.

 Zoom

No zoom, a câmera se mantém fixa e é seu conjunto de lentes que se move, fazendo com que o objeto se apresente mais afastado ou mais próximo na imagem.

Montagem

Montar significa dispor, compor, construir. A montagem no cinema é a organização dos planos de um filme em certas condições de ordem e duração. Consiste na sucessão das tomadas ou planos dentro de uma sequência, de forma a dar-lhes unidade interpretativa.

 Corte seco

É quando há uma transição imediata, direta de uma cena para outra. Foi um dos primeiros procedimentos da montagem, usado na hora da transição de um filme para outro. Usado quando se quer obter imagens que se sucedem dentro de um enredo.

 Fusão

É quando uma cena desaparece simultaneamente ao aparecimento da cena seguinte. As cenas se superpõem: enquanto uma se apaga, a outra aparece. Mantém a fluidez e a suavidade de uma seqüência. Seu uso pode significar uma passagem de tempo. Também é usada quando se quer suprimir ações que sejam dispensáveis na narração (processo conhecido como elipse).

Fade

Quando a imagem vai surgindo aos poucos de uma tela preta (ou de outra cor qualquer), temos o fade in. Quando ela vai desaparecendo até que a tela fique preta, temos o fade out. A velocidade com que a imagem dá lugar à tela preta e vice-versa pode ser controlada de acordo com o efeito desejado. O fade in é comumente usado no início de uma seqüência e o fade out, como conclusão. Pode denotar a passagem de tempo ou um deslocamento espacial, assim como na fusão.

 Cortina

É uma forma de transição de planos que ocorre quando uma cena encobre outra (geralmente entrando no eixo horizontal, mas pode ocorrer também no sentido vertical, diagonal, em íris e em uma infinidade de formas). Pode ocorrer também através de uma linha que corre o quadro, mudando as ações.

 Montagem Paralela

É quando duas ou mais seqüências são abordadas ao mesmo tempo, intercalando as cenas pertencentes a cada uma, alternadamente, a fim de fazer surgir uma significação de seu confronto. Ocorre quando se quer fazer um paralelo, uma aproximação simbólica entre as cenas, como por exemplo a aproximação temporal.

Off

Vozes ou sons não produzidos na cena focada. Um personagem que fale, sem estar em cena, fala em off.

Argumento

Resumo de uma história, para roteirização de um filme, que pode ser original ou adaptado de uma obra literária.

Enquadramento

Limites laterais, superior e inferior da cena filmada. É a imagem que aparece no visor da câmara.

Seqüência

Como se denomina cena, no cinema, embora muitos prefiram chamar assim uma série de cenas ligadas pela mesma continuidade.

Cena

Todo o roteiro é dividido em cenas, unidades dramáticas de ação contínua. Seqüência dramática com unidade de lugar e tempo, que pode ser “coberta” de vários ângulos no momento da filmagem.

 


[1] “Chegada de um trem a La Ciotat” é um filme curto de aproximadamete 50 segundos.  O primeiro filme foi realizado da seguinte forma: os irmãos Lumière colocaram a câmera sobre a plataforma de Ciotat e, assim que o trem que vinha de Marselha apontou na curva, começaram a filmar, só parando quando a locomotiva saiu do campo de visão.

[2] Retiramos partes do texto a seguir do Curso de cinema on-line oferecido pela Labor/UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. Este curso é interessante tanto para professores quanto para alunos que almejem adquirir um pouco mais de conhecimento sobre cinema e recomendamos a quem se interessar que acessem o site http://www.fafich.ufmg.br/~labor/cursocinema/ e façam o curso, que é gratuito e traz trechos de filmes que podem ser vistos on-line.

REFERÊNCIAS

REY, Marcos. O roteirista profissional: televisão e cinema. 3. ed. São Paulo: Ática, 1997.

http://www.fafich.ufmg.br/~labor/cursocinema/

12 comentários em “Linguagem cinematográfica

  1. Rafael
    24 de junho de 2011

    Parabéns pela materia. Alem de me interessar pelo tema, tinha que fazer um trabalho de escola, e aqui achei exatamente o que eu precisava. Muitíssimo obrigado.

  2. Irene Kondo Izawa
    21 de novembro de 2011

    De muito grande ajuda. Obrigada!

  3. keila
    24 de janeiro de 2012

    O blog realmente foi de grande auxílio para mim!
    Obrigada

    • Cintia M. S. Palma
      26 de janeiro de 2012

      Olá Keila

      Que bom que gostou do blog!
      Continue conosco que procuramos sempre postar novas indicações de filmes.
      Abs., Profa. Cintia

  4. Lilia de Andrade Levy
    13 de agosto de 2015

    Sou coordenadora pedagógica do FICI (Festival Internacional de Cinema Infantil) que está em sua 13 edição. Nosso projeto A Tela na Sala de Aula, oferece suporte pedagógico aos estudantes que vão ao cinema durante o Festival. Pesquisando para criar o material deste ano, encontrei o precioso blog de vocês. Adorei descobrir que existem pessoas como eu, trabalhando na mesma direção e com o mesmo objetivo. Gostaria então de parabenizá-las e me colocar a disposição para colaborar no que for oportuno. Um grande abraço!

  5. Heitor
    20 de novembro de 2015

    Muito legal!

  6. Mônica Alves
    26 de novembro de 2015

    Adorei conhecer seu blog. Muito instrutivo e ótima fonte de ideias para uso em sala de aula. Muito obrigada!

  7. Alisson
    3 de agosto de 2016

    Vocês possibilitam jovens que não possuem renda ou oportunidades para estudar cinema.
    Nunca encontrei tanta informação e de forma coerente num só site.
    Vocês são inspiradores.
    Obrigado,

  8. Dalton
    2 de julho de 2017

    Suscinto e objectivo. Matéria bem apresentada e de fácil entendimento.

  9. MARIA DO SOCORRO BARROS BARATA MACHADO
    11 de agosto de 2020

    EXCELENTE MATERIA

  10. LUIS FERNANDO RIBEIRO DOS SANTOS
    3 de setembro de 2020

    esse material são bem favorável

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